quinta-feira, 13 de maio de 2010

TEMPO DE ULTRAPASSAGENS



            Integrando uma comissão do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, CONIC, que dá seus primeiros passos na estruturação da Campanha da Fraternidade 2010 Ecumênica, senti na última reunião uma vontade ferreamente explicitada por todos os participantes. A de se posicionar, apesar das imensas dificuldades da conjuntura, cada vez mais ecumenicamente na direção de estratégias sociais consolidadas no binômio sustentabilidade x solidariedade, a partir do próprio tema da campanha:Economia e Vida. Estratégias que estariam alicerçadas em três grandes eixos: o de repudiar as iniciativas econômicas que não levam à paz, o de incentivar as formas de economia que buscam ampliar a fraternidade e o de fomentar as iniciativas que valorizam o trabalho agro-ecológico.
Os eixos acima devem, na CF 2010 Ecumênica, consolidar-se a partir de uma espiritualidade supradenominacionalenxergante e proativa, de ações concretizadas sob uma contagiante vontade política comunitária. Sempre a capacitar os menos favorecidos, a partir de empreendimentos sementeiros embasados em modelos não-excludentes. E com a plena convicção de que tais iniciativas reeducarão inclusive as próprias denominações religiosas em suas práticas de ser-Igreja, suas cúpulas atualmente ainda bastante distanciadas das realidades sentidas por milhões e milhões de sofridos. Uma reeducação que as fortifiquem para “entrar na roda com a gente”, todas espelhando-se na canção Momento Novo, de Ernesto Cardoso, que também proclama que a hora é “de transformar o que não dá mais”, posto que “sozinho isolado ninguém é capaz”.
            A reunião do CONIC foi realizada no bem estruturado Centro Cultural de Brasília, uma vitoriosa iniciativa jesuítica. Lá, numa das sessões, foi recordada um pensar do consultor organizacional Ichak Adizes, criador do Instituto Adizes, na Califórnia. Segundo ele, todo espírito empreendedor está na função direta da consciência que se tem entre o desejado e o esperado, sempre consciente de que no dia em que o que se espera do futuro se iguala ao que se deseja, começa-se a envelhecer”.
            Em todos os acontecimentos históricos, não há nada mais ridicularizável que a farolagem de determinados dirigentes. Muito rapidamente logo revelam sua identidade: possuem até ciência, mas não têm sabedoria; podem entender de burocracia, mas não carregam uma energia espiritual capaz de sadias emulações; praticam um populismo enganador, incapaz de ultrapassar os limites rígidos do apenas simplesmente formal. Quando não privilegiam aparentados e outros coitados, desatentos às traves imensas enfiadas em seus próprios olhos.
As conseqüências são desastrosas: passados alguns meses de emersão, os verdadeiros amigos estão de ânimo arrefecido, os lambedores da primeira hora já demandam novos favorecimentos, até os adversários já não mais se sentem com vontade de bater com força, pois o pretenso leão já se estatela desnudado, sem rabo, careca e castrado, sem voz nem fibra. Apenas mantendo as posturas fingidas, seus últimos arreios.
Das muitas preocupações que serão analisadas para a Campanha da Fraternidade 2010 Ecumênica, quatro seguramente estarão na pauta dos debates: o Projeto de Lei n° 6.424/05, que diminui a reserva legal na Amazônia de 80% para 50%; a Medida Provisória n° 422/08, que legaliza as terras griladas que têm até 1.500 hectares; a Proposta de Emenda Constitucional nº 49/06 que reduz a faixa de fronteira para 50 km; e os Decretos Legislativos 44/07 e 326/07 que dificultam a titulação de terras quilombolas.
Os assuntos acima favorecerão debates cidadãos ampliadores de militância. Tal aqueles que resultaram de uma pergunta de especialista da USP: “Por que o volume da produção de arroz, feijão e mandioca, os três principais alimentos da população pobre do país, não cresce desde 1992?” Uma pergunta que merece comprometimentos consistentes, antes das Olimpíadas de 2012...
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Fernando Antônio Gonçalves é clérigo da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Diocese Anglicana do Recife, professor universitário e pesquisador social. 
 
fonte da notícia: Fernando Antônio Gonçalves

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