quinta-feira, 27 de maio de 2010

Humanizar o mundo

Os líderes religiosos têm a tarefa de recolocar o humanismo no centro do mundo.
de Jaime Carlos Patias *
Qual o papel das religiões na busca da espiritualidade e humanização do mundo contemporâneo? Quais valores ajudariam a humanidade a construir uma ética universal? Que mudanças ocorreram no interior do judaísmo? Estas e outras questões são abordadas pelo rabino Alexandre Leone nesta entrevista concedida em sua residência, em São Paulo. Doutor em  Cultura Judaica pela USP, Leone é estudioso do pensamento judaico medieval e moderno com interesse no aspecto ético e humanizante, onde a tradição se une a uma criativa busca pela espiritualidade. Desde 2005 atua como rabino do Centro Cultural e Social Bnei Chalutzim, entidade que serve à comunidade judaica de Alphaville, Granja Viana e região, em São Paulo. Convidado pela Confederação Israelita do Brasil, Alexandre representou a comunidade judaica brasileira na visita que o papa Bento XVI fez em janeiro de 2010 à Grande Sinagoga de Roma, na Itália. 
Quais seriam as principais correntes ou tendências no judaísmo hoje?
Em primeiro lugar, os judeus não são uma igreja, mas um povo cuja unidade básica são as famílias que formam as comunidades. Estas são associações de famílias que se unem por diversos motivos. Por exemplo, grupos de migrantes da Alemanha, da Síria, da Polônia, que pela origem, quando chegaram ao Brasil criaram elo entre as pessoas. Ou mesmo judeus que seguem uma linha mais ortodoxa ou liberal. As correntes do judaísmo moderno nasceram no século 19 ou 20. Cada uma à sua maneira são herdeiras do judaísmo medieval. Antes disso vigorava outra situação no mundo judaico. No século 19, temos um fenômeno denominado Emancipação. Influenciados pelas Revoluções Francesa e Americana, os judeus nos seus países passaram a ser considerados cidadãos com direitos e deveres iguais a qualquer cidadão. Antes, eram considerados um povo à parte. Com isso eles enfrentavam uma série de restrições no emprego, moradia, impostos etc. Ao mesmo tempo gozavam de uma autonomia maior. O processo de emancipação, que teve diferentes ritmos em países diferentes, durou quase todo o século 19 e com isso passaram a participar da vida social. Entre um grupo judaico mais urbanizado e modernizante, temos uma corrente denominada reforma, que pretende um judaísmo mais condizente com a sociedade moderna. Os movimentos reformistas em alguns lugares são chamados liberais. Há variações dentro dessa corrente. A reforma européia é mais tradicional, enquanto que a americana foi mais radical. Ambas se caracterizam por buscar afrouxar uma série de observâncias religiosas. Em oposição a isso apareceu a ortodoxia, aqueles que acham ter uma opinião correta. Apareceu também uma ultra-ortodoxia. São os que se vestem de preto, usam a barba comprida, e cobrem a cabeça com chapéus. No início do século 20 pensava-se que a ultra-ortodoxia era uma espécie de corrente fóssil fadada a acabar, mas ela sobreviveu. A partir dos anos 60 muitos se viram atraídos por ela devido à busca pelo exótico e pela fuga do mundo moderno. Essa corrente cresceu em Israel e no mundo inteiro. Alguns inclusive se tornaram até missionários no interior do judaísmo tentando ganhar membros. Assim esses grupos que representam o fundamentalismo judaico hoje são maiores do que eram nos anos 60 do século passado. 
Mas, existe um meio termo...
Existe um grupo centrista do qual eu faço parte e que se distingue tanto da reforma quanto da ortodoxia, apesar de aceitar certas teses de ambas as partes. Na Europa foi chamado de corrente histórica. Nos Estados Unidos são os conservativos. Mas no final do século 20, esse grupo passou a se autodenominar “masorti” (os tradicionalistas) diferenciando-se do liberal, mas também do ortodoxo. Existe ainda nos Estados Unidos o reconstrucionismo e uma espécie de judaísmo New Age, algo espiritualista, ecológico. É a renovação judaica. Além disso, muitos judeus são chamados seculares, ou membros do judaísmo cultural que tem identificação mais nacional. Eles junto com a reforma moderada e a ortodoxia moderada são hoje o mainstream judaico.
A busca pela espiritualidade ou do re-encantamento no mundo contemporâneo, a que se deve?
Ela vem daquilo que Freud chamou de mal estar da civilização. Depois das grandes guerras, do holocausto, com o aparecimento da sociedade de consumo, temos uma reação geral, por um lado um reavivar de certa espiritualidade por outro o crescimento de grupos com ranço de preconceito e fundamentalismo muito grande. Quem diria nos anos 60 que o Brasil se tornaria um dos paises com maior população evangélica no mundo? Quem diria nos anos 70 que grupos de direita no mundo católico estariam tão fortes no início do século 21? Há 40 anos o fundamentalismo islâmico não existia. O movimento árabe era mais nacionalista, não era tão ligado à religiosidade. Isso tudo é uma reação ao secularismo, à crise da civilização moderna. 
Existem judeus fora da cultura judaica?
Como os judeus se espalharam pelo mundo, o seu caráter se tornou multicultural e multiétnico. Em Israel é mais fácil reconhecer esse fenômeno. Nos Estados Unidos, grupos de negros se converteram ao judaísmo e fizeram um caminho para serem aceitos pelas comunidades judaicas como judeus. Temos também judeus orientais dos mais diversos grupos com características muito próprias. Alguns grupos de judeus vindo da Ásia, no Yemen, na Índia, por exemplo, muitas vezes são confundidos com muçulmanos. Temos judeus de países africanos. Na Etiópia foi descoberta uma comunidade inteira que não falava hebraico e usava como língua litúrgica o guez, a antiga língua etíope. A maioria migrou para Israel nos anos 80 e 90, e fez um caminho de integração. Os judeus da China praticamente desapareceram, mas algumas sobreviveram até quase o século 20. 
Esse movimento provocou mudanças no interior do judaísmo?
As migrações de grupos judeus de vários países para as Américas, Israel, Oceania e para a Europa Ocidental  provocou uma mudança na base lingüística, como nenhum povo no século 20 sofreu. Outro fenômeno foi o genocídio. Em 1939 havia 18 milhões de judeus. Hoje o número quase não chega a 15 milhões. Só no genocídio foram exterminados seis milhões, dentre os quais um milhão e meio de crianças. Com exceção das que eram separadas para pesquisas, as outras eram mortas. Isso significa que comunidades inteiras e modos de vida desapareceram. A integração se deu assim: no Brasil chegaram judeus da Síria, da Polônia, da Alemanha, do Marrocos no começo cada comunidade ficava fechada em si, mas com o tempo elas se integraram e também com a sociedade brasileira. Várias comunidade judaicas hoje são reunião de diásporas. No começo cada um ficou na sua, mas eles começam a se integrar e a casar entre si. Com isso já não temos mais aquele judaísmo que existia antes na Europa ou no Oriente Médio. Nos Estados Unidos acontece a mesma coisa, e principalmente em Israel. Lá o povo judeu se percebe como uma “micro” humanidade. Como o povo tem elementos multiculturais, temos uma forma nova. Ao mesmo tempo surgem outras culturas judaicas que antes não existiam. Por exemplo, o judeu argentino, o judeu americano, que é culturalmente muito definido e o judeu russo.
Há fenômenos novos dentro do judaísmo?
Outro fenômeno mais recente é o crescente número de pessoas nos países ocidentais que buscam a conversão ao judaísmo. Isso aconteceu na Colômbia com uma comunidade inteira (mostra uma reportagem da TV colombiana). Tudo começou com grupos messiânicos, cristãos evangélicos, que sem deixar de ser cristãos adotaram práticas judaicas e terminaram por se converter. No Brasil, em menor proporção, isso também acontece. Na Colômbia, de 50 comunidades messiânicas, sete abandonaram o cristianismo para assumir o judaísmo. Eles se aprofundaram no judaísmo estudando hebraico e seguindo a liturgia judaica. Convidaram um grupo de rabinos de Israel para formalizar a conversão massiva. É muito difícil afirmar que eles tenham descendência judia como alguns deles afirmam, mas essa lenda pessoal os moveu. Calcula-se que no Brasil, por exemplo, haja milhões de descendentes daqueles judeus que foram forçados a converter-se ao cristianismo em Portugal e que vieram ao Brasil durante o período colonial, os chamados marranos. Muitos são brasileiros comuns que de repente se descobrem descendentes de judeus. É um fenômeno antropológico, existencial e pessoal. Vemos aumentar no mundo o número de pessoas que buscam as comunidades judaicas para se converterem. No passado esse fenômeno se dava mais através do casamento inter-religioso. Ou então conversões de crianças, cujas mães não eram judias. Tenho aqui pedidos de muitas pessoas querendo se converter ao judaísmo.
Como é viver o judaísmo na sociedade de consumo hoje?
Dependendo da corrente a que pertence, o judeu vai encontrar dificuldades e caminhos diferentes. Como estou numa posição moderada busco um caminho do meio. Por um lado, o judeu quer participar da vida da sociedade moderna e por outro, quer preservar a tradição, mesmo sabendo que ela tem a sua evolução natural. Um judeu que queira viver como eu estou vivendo vai viver em dois calendários, o civil gregoriano e o judaico. Imagine conciliar na escola ou no emprego que sexta-feira à noite e sábado não se trabalha, ou que se deva respeitar os feriados judaicos? A sociedade contemporânea é hedonista, muito voltada ao prazer. Para viver uma vida de prática litúrgica, esse re-encantamento do mundo não é simples, porque precisa de uma disciplina. Imagine parar de trabalhar para rezar a liturgia das horas? Mesmo como rabino, vejo que é necessária uma autodisciplina constante e que para muitos é complicado.
E quanto à ética nos negócios a na política?
É muito mais fácil as pessoas adotarem práticas rituais do que práticas éticas. Então temos aquele sujeito que é super religioso, que anda de preto e observa as regras religiosas e ao mesmo tempo nos negócios não é tão correto assim. 
Essa prática seria um desafio enfrentado por todas as religiões?
Essa separação entre o que é religioso do que não é, em si mesmo, já é uma separação moderna. Alguns vão responder a essa separação com a rejeição fundamentalista, e conservadora da vida moderna. Então impõem regras, não têm televisão em casa, restringem a internet etc. Isso também tem seu viés político. As pessoas passam a apoiar grupos e partidos políticos que os representam, e que querem um Estado de Israel religioso. Um estado religioso, judaico, muçulmano, cristão, etc, é a pior ditadura possível, é a ditadura das mentes, porque para manter esse tipo de Estado precisa controlar os costumes. Por outro lado temos uma espiritualidade que quer preservar as tradições, mas ao mesmo tempo não quer se isolar. Isso não vai resolver. Os problemas humanos são tão grandes e globais que é preciso olhar a realidade de frente. Isso requer um caminho não fundamentalista, requer diálogo.
No mundo moderno quais seriam os valores que ajudariam a humanidade a construir uma ética universal?
Abraão Joshua Heschel (1907–1972) entende que os religiosos têm a tarefa de recolocar o humanismo no centro do mundo. Não aquele humanismo aintirreligioso, mas um humanismo que tem seu cerne em Deus.Heschel encontra isso na idéia bíblica de que o ser humano é a imagem de Deus entendido como uma ordem. Deus não nos deixou nenhum símbolo dele. Ele nos pede para que nós sejamos os símbolos. A pessoa se torna símbolo de Deus pela prática ética que é uma prática de humanização reconhecendo o humano no outro. Uma prática de cuidar das questões que de fato são relevantes. Outra frase importante de Heschel é “nenhuma religião é uma ilha”. As religiões precisam umas das outras. 
As religiões e igrejas às vezes acabam se perdendo no secundário (regras, leis, dogmas) esquecendo-se do essencial?
Toda a experiência religiosa é pautada por um modo de vida. No judaísmo existe uma ideia de que se a lei é o corpo, a fé é a alma. A lei sozinha é um corpo sem vida, um cadáver. A fé sem ações no mundo é um fantasma, porque não se corporificou. Corpo vivo é constituído pelos dois lados. Ou seja, a prática religiosa não existe em si mesma.
Emmanuel Lévinas (1906 – 1995) no seu texto “Uma religião de adultos”, fala do diálogo inter-religioso, da voz de Israel e da religião sacramental, aquela que é totalmente voltada para o ritual. Lévinas afirma que a religião sacramental vai ser sempre negada pelo ateísmo. Nesse contexto o ateísmo é a negação de que o ritual tenha o poder mágico. Para ele, ambos, o ateísmo e a religião sacramental devem ser superados pelo monoteísmo. É uma superação no sentido dialético que conserva alguma coisa dos dois, mas ao mesmo tempo, os ultrapassa. A religião dos adultos é aquela centrada no ato ético. O ato religioso por excelência não é o ritual, que também tem sua função, mas o ato ético. Lévinas a essência da ética não são as regras, mas da a responsabilidade pessoal que fruto do reconhecimento dos outros diante de mim. No momento em que estou diante do outro que é diferente, eu já me coloquei numa situação de recebê-lo para entrar em diálogo. Lévinas tem uma frase fantástica: “A ética não é o corolário da visão de Deus, mas a própria visão de Deus” Assim a ética é uma ótica. Eu só consigo entrar em relação com o Deus do monoteísmo, pela ética. Segundo Heschel, Deus não está preocupado com questões teológicas, mas com o pobre, a viúva e o órfão. Enquanto o filósofo nos leva às mansões eternas da mente, os profetas nos levam aos cortiços de Jerusalém. Trata-se de amar a quem Deus ama. Deus demonstra uma grande preocupação com o ser humano desse modo nós devemos também demonstrar para fazer sua obra. Para aquela que vê santidade na vida ética o sublime é o exemplo de vida. Veja a doutora Zilda Arns, já é uma santa. Ela vai ao Haiti e morre naquela situação. O verdadeiro milagre já aconteceu. É o próprio exemplo de vida. 
Como o judaísmo interpreta hoje o holocausto?
Os que sobreviveram, foi por causa da resistência que era uma forma de resiliência. Isso na dimensão individual. Em nível coletivo, podemos distinguir pelo menos três discursos judaicos com relação ao holocausto: a) Os nacionalistas afirmam que por conta disso, precisamos de um Estado de Israel muito forte; b) Os ultra-ortodoxos dizem: aconteceu o holocausto, alguém pecou para que Deus tivesse permitido esse tipo de coisa. Para mim esse discurso é imoral, pois desculpa os carrascos e coloca Deus como carrasco no final das contas. c) Há um terceiro discurso na fala de Heshel e Lévinas: o holocausto foi um crime contra a humanidade, ou seja, não é para ser visto somente a partir de uma ótica judaica, mas universal. Mesmo que esse discurso não explique porque o holocausto aconteceu, ele reconhece que o genocídio é um sintoma de processo de desumanização que não parou depois que a Alemanha foi derrotada. Continua no “american way of life”, na sociedade do espetáculo. A resposta religiosa é estar do lado da população desprotegida. No século XIX eram os judeus, nos anos 60 os negros, os povos indígenas, os vietnamitas. Ao estar do lado deles, eu estou fazendo aquilo que Deus quer que eu faça. Esse discurso representa a crítica da modernidade por ela não ter trazido o humanismo que prometeu e revela a fonte espiritual das nossas tradições.

Jaime Carlos Patias, imc, é diretor da revista Missões. Entrevista publicada na Edição de maio 2010- N. 4- revista Missões. www.revistamissoes.org.br

SOCIEDADE INTERNACIONAL PARA CONSCIÊNCIA DE KRISHNA (ISKCON)


convida a todos a participarem
Festival Transcendental Especial

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7zIYQqsBXGfsM1nlbySVYSIqIAnvMGT95-CDhsjXwpfnGAEx_JqvJ26SFhaHSXVuML3jmuBKadyl5DC1xmP6VPvG8KGgpfaobc3a4ohnDSBd2t8yxSpIfUOt55xQ4zwhC7IwyNVzeImU/s1600/Cartaz+Narasimha.JPG

quarta-feira, 26 de maio de 2010

SEMINÁRIO EM COMEMORAÇÃO AOS 15 ANOS DA DECLARAÇÃO DOS PRINCÍPIOS SOBRE A TOLERÂNCIA DA UNESCO





 “Desafios para a superação da intolerância religiosa”
 Dia: 18 de junho de 2010

Apresentação
Grupo de Trabalho para a Diversidade Religiosa é uma iniciativa do Governo do Pará a fim de estreitar relações com as organizações religiosas, considerando o desenvolvimento de políticas públicas e parcerias que venham contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população.
Dentro de sua esfera de atuação, merecem destaque os processos formativos. Pois estes são espaços democráticos de diálogo e construção de conhecimento que fomentarão idéias, projetos e parcerias futuras.
 Justificativa
Neste ano em que comemoramos os 15 anos da Declaração dos Princípios da Tolerância da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, apresentamos o seminário “Desafios para a superação da intolerância religiosa”.
O preconceito e a violência por razão de crença ou fé ainda está muito presente no cotidiano da sociedade, implicando no estímulo a conflitos e reprodução de mais violência. Diante desta realidade, faz-se urgente a reivindicação por uma educação para a tolerância no sentido de constituirmos uma sociedade que valoriza sua pluralidade e garanta o direito fundamental de liberdade de manifestação religiosa.
Tolerância não pode ser compreendida de forma reducionista como permissividade ou aceitação passiva de algo do qual não se concorda. Pois como diz o artigo 1º da Declaração “a tolerância não é concessão, condescendência, indulgência. A tolerância é, antes de tudo, uma atitude fundada no reconhecimento dos direitos universais da pessoa humana e das liberdades fundamentais do outro”.
Este seminário vem cooperar com os movimentos e as organizações de direitos humanos que atuam contra a intolerância religiosa, desmitificando a tese de que Brasil, por este ser um país pluralista, não ocorre violência originada por orientação de crença, fé ou religião.
 Objetivos
- Possibilitar um espaço de encontro, articulação e formação para lideranças religiosas de diferentes credos;
- Propiciar subsídios acadêmicos para estudos e pesquisas do campo religioso paraense, especificamente sobre a diversidade religiosa;
 Metodologia
O Seminário terá duração de oito horas, percorridas durante um dia, contando com a participação de acadêmicos e lideranças religiosas. O tempo será compartilhado entre mesas-redondas, palestras e propostas de ação.


Dia 18/06 – sexta-feira – Horario: 14 as 20h (17 h Coffe Black)
Local: Auditório da Uepa Belém

 - Metodologia: 
·        Pré- encontros (conferencias) por entidades (por adesão ou não)
·        Seminário com grupo com 03 grupos de trabalhos
·        Exposições /espaço interativo
Celebração Inter-religiosa de abertura
Mesa de Abertura: Conceitos, sentidos, exemplos de tolerância na tradição oral e nos textos sagrados das religiões.
GT’s
·         Religião e direitos humanos
·         Estado Laico
·         ?
 Plenária de idéias e propostas
Celebração de encerramento
Comissão: Saulo,Tony, Caeté, Roseli, Yandra,
Ver convidado de outro estado (Saulo)
Coffee break - Saulo
Confirmar por e-mail – programação
Comitê Inter-religioso (comiteinterreligioso@gmail.com) 
Visite o blog do Inter-religioso
www.comiter.wordpress.com

Declaração sobre Ética e Eleições






DECLARAÇÃO DO CONIC SOBRE ÉTICA NA POLÍTICA E ELEIÇÕES 2010
Não podeis servir a Deus e ao dinheiro (Mateus 6:24)
Nós, representantes das igrejas-membro que compõem o Conselho Nacional de
Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Episcopal
Anglicana do Brasil, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja
Presbiteriana Unida do Brasil e Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia, temos por dever a
missão de orientar, em um ano eleitoral, a Sociedade Brasileira na busca de uma classe
política cada vez mais comprometida com a ética, que esteja preocupada com os
interesses da população e não com os seus próprios interesses.
Por ocasião da reunião do Conselho Curador do CONIC, e com base no que
temos colhido em nossas igrejas com as pessoas com as quais convivemos
diuturnamente, queremos falar sobre as questões sociais, econômicas e éticas que
angustiam o Povo Brasileiro. De nossas Igrejas chegam-nos expressões de
preocupação e muitas vezes espanto, acompanhadas de insatisfação e desilusão em
relação à classe política de nosso país.
A voz dessas pessoas deve ser ouvida, não negligenciada; afinal, o poder está
nas mãos do povo que, de tempos em tempos, elege representantes para defender os
interesses da coletividade. Em vista disso, esperamos nos políticos que forem eleitos
em outubro, que prezem pela ética como um valor inalienável, para não ver cair na
desmoralização e descrédito generalizado todos aqueles que são representantes do
povo, comprometendo a boa reputação das Instituições Democráticas deste País.
Lembrando a recente Campanha da Fraternidade Ecumênica, que com o tema
“Economia e Vida” tratou da perversidade do modelo econômico vigente e de
alternativas para incluir os menos favorecidos, é preciso que sejam refletidas maneiras
de contemplá-los em seus direitos e necessidades básicas. Nesse sentido, é necessária
uma profunda reforma na educação do país, de modo que se possam atender as
demandas da economia sem, contudo, transformar pessoas em meras peças de
reposição do sistema econômico. Para isso, uma visão integral da natureza humana é
CONSELHO NACIONAL DE IGREJAS CRISTÃS DO BRASIL – CONIC
Secretaria Geral: SCS Qd. 01 Bl. E Ed. Ceará Sala 713 - Brasília - DF CEP: 70303-900
Fone/Fax: (61) 3321-4034 – 3321-8341
www.conic.org.br conic.brasil@terra.com.br
essencial, pois o ser humano precisa fundamentalmente de atenção, cuidado e
reconhecimento, e de um meio ambiente protegido e seguro para viver.
Por fim, parabenizamos o Povo Brasileiro, que através da pressão popular,
conseguiu que o projeto de lei denominado “Ficha Limpa”, após passar pela Câmara dos
Deputados, fosse aprovado no Senado Federal na semana passada. Tal iniciativa
comprova que é possível mudar. Em vista disso, uma reforma política séria, feita com
parâmetros éticos e em parceria das diversas instâncias da sociedade civil organizada é
imprescindível. Incentivamos, portanto, que todos os cidadãos brasileiros, inclusive os
residentes no exterior, expressem seus anseios na hora do voto, procurando eleger
pessoas comprometidas com o bem-estar da população, candidatos que, depois de
eleitos, não se esqueçam daqueles que os elegeram, colocando o bem comum acima
dos interesses partidários ou pessoais.
Certos de que tempos melhores virão com os ares renovados da nova política,
também aqui vale a exortação de Jesus de que não se pode servir a Deus e ao dinheiro
(Mateus 6:24). Pedimos a Deus que guarde e abençoe a todos os brasileiros deste
imenso país chamado Brasil.
Brasília, 25 de maio de 2010
Dom Dimas Lara Barbosa;
Secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Dom Maurício de Andrade;
Bispo primaz da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB).
Pastor Doutor Walter Altmann;
Presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).
Reverendo Enoc Wenceslau;
Moderador da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU).
Padre Joanilson Pires do Carmo;
Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia.
Pastor Sinodal Carlos Möller;
Presidente do CONIC.
Reverendo Luiz Alberto Barbosa;
Secretário geral do CONIC.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

''A Teologia da Prosperidade e o neoliberalismo são irmãos siameses''. Entrevista especial com Gedeon Freire de Alencar






O sociólogo Gedeon Freire de Aguiar reconhece as contribuições do pentecostalismo para a sociedade brasileira, principalmente em relação ao aumento do número de alfabetizados e à diminuição da violência doméstica. No entanto, ele faz críticas ao pentecostalismo quando afirma que o mesmo “reproduz as opressões sociais, e elas ficam pioradas porque, neste caso, têm uma ‘marca espiritual’”. E aqui ele cita “o machismo, a discriminação de gêneros e sexos, apatia nas lutas sociais, um processo de acomodação de status e uma ênfase exagerada na solução dos problemas pessoais em detrimento da comunidade”. Quando questionado sobre o diálogo inter-religioso, Gedeon argumenta que “todas as religiões têm dificuldade de relacionamento, pois estabelecer uma relação é identificar no outro algum valor o suficiente para ele/a ser visto e ouvido. O ecumenismo é bonito na teoria, mas é piada utópica”. Na entrevista que segue, concedida, por e-mail, à IHU On-Line, o presbítero da Assembleia de Deus Betesda, de São Paulo, defende que “teologia da prosperidade e neoliberalismo é, como diz o provérbio popular, a casa e o botão. São irmãos siameses. Um não existiria sem o outro”. Para ele, ter mais público quantitativamente é o grande critério de validação das igrejas pentecostais. “Daí quem é o elemento fundante e final da coisa: o consumo”
Sociólogo, presbítero da Assembleia de Deus Betesda, em São Paulo, Gedeon Freire de Alencar é diretor pedagógico do Instituto de Estudos Contemporâneos (ICEC). É mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista, com a tese Todo poder aos pastores, todo trabalho ao povo, e todo louvor a Deus. Assembleia de Deus: origem, implantação e militância (1911-1946). Também é membro da Associação Brasileira de História da Religião e da Rede de Teólogos e Cientistas Sociais do Pentecostalismo na América Latina e Caribe. É autor do livro Protestantismo Tupiniquim: Hipóteses Sobre a (não) Contribuição Evangélica à Cultura Brasileira (São Paulo: Arte Editorial, 2005).
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Como o senhor descreve a relação entre as religiões pentecostais e a sociedade brasileira?
Gedeon Freire de Alencar - Os pentecostalismos (no plural), como qualquer outra expressão religiosa, têm acertos e erros na sua relação com a cultura. Como nos lembra Weber, em seu clássico texto Rejeições religiosas do mundo e suas direções, ou teoria dos conflitos, as religiões de salvação têm uma relação de tensão e concessão com o mundo. Portanto, com os pentecostalismos não poderia ser diferente. Sem julgamento de valores, vejamos, por exemplo, a relação entre alfabetização e pentecostalismo. Nas regiões mais pobres da sociedade aonde o pentecostalismo chegou, houve uma melhora na questão da alfabetização, ou, de outra forma, se não fosse o pentecostalismo, nosso índice seria pior. Na questão da violência doméstica, idem. Mas também tem outra contribuição em termos culturais, pois, originalmente, negava e até satanizava todas as expressões de danças, comidas, músicas e instrumentos. Portanto, é uma relação ambígua.  

IHU On-Line - Quais as principais críticas que o senhor faz ao pentecostalismo hoje?
Gedeon Freire de Alencar - Reproduz as opressões sociais e elas ficam pioradas porque, neste caso, têm uma “marca espiritual”. E aqui cito o machismo, a discriminação de gêneros e sexos, apatia nas lutas sociais, um processo de acomodação de status e uma ênfase exagerada na solução dos problemas pessoais em detrimento da comunidade.

IHU On-Line - Como se dá a relação entre o pentecostalismo e as religiões afro?
Gedeon Freire de Alencar - Péssima – por culpa de ambas. Sei que corro o risco de desagradar a todos, mas não vou fugir da questão. Primeiro, todas as religiões têm dificuldade de relacionamento, pois estabelecer uma relação é identificar no outro algum valor o suficiente para ele/a ser visto e ouvido. O ecumenismo é bonito na teoria, mas é piada utópica. Segundo, teologicamente, ou sendo mais simplista, fenomenologicamente apenas, é impossível uma relação entre as duas. Nenhuma reconhece a outra, mesmo como mero fenômeno social. Terceiro, ambas são concorrentes, pois suas membresias estão na mesma camada social. Quarto, a criminalização da questão superou os limites da civilidade. Ambas são majoritariamente religiões de pobres e, esta, dentre outras, foi a razão da perseguição externa. O pentecostalismo foi absurdamente perseguido em seus primeiros anos, nos EUA e também no Brasil, pelas igrejas tradicionais, ditas cristãs, muito mais por racismo e sexismo. Uma perseguição imoral, anticristã, vergonhosa. Mas este mesmo pentecostalismo (no caso o neopentecostal) , agora hegemônico e poderoso, repete de forma vergonhosa a mesma perseguição. Uma coisa é querer se diferenciar religiosamente, “se vender” como a religião melhor, mais correta etc. Outra coisa é criminalizar o outro; perseguir mesmo. Por outro lado, os cultos afros são muito competentes em termos estéticos e culturais, mas absurdamente incompetentes em racionalidade econômica. Para completar, são estupidamente divididos e inimigos entre si. Alguns optaram por um demagógico discurso vitimista e só conseguem se manter porque vivem ancorados nas sinecuras estatais. Com a desculpa (ou a culpa mesmo) de que é “cultura” e não religião, deram um tiro no pé: virou cultura alegre, vistosa, interessante para turista, mas se folclorizou. Enfeite de solenidade, alegoria de carnaval, não conseguiu articular militância e fidelização de seus membros. É dizimado mais por seus próprios erros internos que externos. Pelo andar da carruagem só vai sobrar em museu.
IHU On-Line - Que relação podemos estabelecer entre a teologia da prosperidade e o neoliberalismo econômico? 
Gedeon Freire de Alencar - Toda teologia tem a cara de seu tempo – mesmo que teólogos se digam inspirados (apenas) por Deus. O teólogo é um leitor de seu tempo. Alguns são bons leitores, outros péssimos. Então, teologia da prosperidade e neoliberalismo é, como diz o provérbio popular, a casa e o botão. São irmãos siameses. Um não existiria sem o outro. Não vou me atrever a avaliar a teologia ou a economia, pois entendo pouco dos dois, mas diria apenas mais uma coisa: por que o neoliberalismo não nasceu, por exemplo, no final da década de 20? Não existia, absolutamente, ambiente para isso. Da mesma forma como a teologia da prosperidade jamais teria surgido, no Brasil, na década de 70. Não havia condições econômicas e sociais propícias. Isso poderia ser dito de outras teologias e de outras épocas similares.  

IHU On-Line - Em que sentido podemos perceber nas religiões neopentecostais uma ética relativista e uma estética consumista, como o senhor apontou em uma entrevista já em 2006?
Gedeon Freire de Alencar - Um dos critérios – quase único – de nosso tempo é o quantitativo. “O fetiche de quantidade”, como disse Renato Mezan, no caderno MaisFolha de S. Paulo, semana passada. Tudo é medido em números, e estes funcionam como oráculo divino. Por que este livro é bom? Porque vendeu muito. E este é melhor que outro porque vendeu mais ainda. Então, por que este louvor, música, pregação e igreja são melhores e estão certos, mais que outra(s)? Porque vendeu mais. Têm mais gente. Ter mais público quantitativamente é o grande critério de validação. Daí quem é o elemento fundante e final da coisa: o consumo. Por isso, benções são consumidas, louvores vendidos, pregações compradas. Igrejas são da moda – e o céu (ou o inferno para quem acredita...) é o limite. Conclusão - perdão pelo lugar comum - tudo é relativo. A ética é então muito mais conveniência que convicção; muito mais funcionalidade que fundamento. Qual a ética que rege este modelo? A do possível, dos fins justificando os meios. Não se tem mais a priori um bem maior definido e fundante, mas uma relatividade funcional de que, dependendo da “necessidade”, vale qualquer coisa. Se posso pagar a benção, comprar o louvor, transformar em moda a adoração, toda embalada para consumo de indivíduos, quem é que pode, em última instância, definir o objetivo? E Deus – seja lá ele quem for – não se meta a querer mudar o projeto.

IHU On-Line - Como entender a ênfase escatológica pregada pelas religiões pentecostais?
Gedeon Freire de Alencar - Nas igrejas pentecostais mais periféricas (domingo passado, vi isso pessoalmente) a mensagem escatológica ainda é forte, já nas igrejas de classe média e, principalmente, nas neopentecostais, o discurso escatológico está fora de moda. Simples, se Jesus voltar agora vai estragar a festa! O pentecostalismo, fenômeno típico da passagem do século XIX para o XX é absolutamente escatológico. Nasce no período das grandes guerras. Ademais, como religião de pobres, o sonho é escapar da miséria. É fácil para um intelectual de esquerda ridicularizar isso como alienação, mas, fazendo algum esforço para compreender “de dentro”, a doutrina escatológica também pode ser uma esperança. O céu é um projeto de justiça e paz.

IHU On-Line - Como a Assembleia de Deus se posiciona em relação ao pentecostalismo?
Gedeon Freire de Alencar - A Assembleia de Deus é uma igreja pentecostal. Aliás, não existe a Assembleia de Deus no singular, mas Assembleias. São muitas, variadas, autônomas, e, às vezes, inimigas entre si. Mas, majoritariamente são pentecostais, e como o universo assembleiano é vasto, há desde assembleias clássicas e tradicionais às mais neopentecostais e folclóricas possíveis. Teoricamente, pentecostal é quem aceita a contemporaneidade da doutrina do Espírito Santo. Mas a complicação é imediata: qual doutrina? Por exemplo, o falar em línguas e o exorcismo. Muitas igrejas hoje não têm mais estas marcas, ou só tem uma, como a Igreja Universal do Reino de Deus, que só dá ênfase ao exorcismo. Enfim, há muito que pentecostalismo não é mais apenas uma designação doutrinária, mas uma definição sociológica, e mesmo esta, atualmente, não é consenso.
Para ler mais:
·         Império Universal
Deus quer você rico. Neopentecostais prometem a prosperidade, mas recomendam que fiéis cobrem de Deus. Depoimento de Antônio Flávio Pierucci